Brasil

Estudante de medicina satiriza texto sobre estupro e gera polêmica nas redes sociais

O estudante de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Lucas Müller Mendonça, se tornou alvo de revolta nas redes sociais na última segunda-feira, 11, por publicar uma sátira que debochava de um texto publicado pela fotógrafa Tracy Figg. No texto original, publicado no Instagram após a prisão do médico que estuprou uma mulher grávida, a artista faz um desabafo sobre os constantes riscos causados por homens às mulheres em todas as fases da vida. O estudante fez um comentário na publicação no qual escreveu um texto com a mesma estrutura do original, mas que correlacionava infrações de trânsito ao gênero feminino.

Tracy Figg viralizou ao descrever situações e idades nas quais as mulheres correm risco de serem estupradas, inclusive por familiares e pessoas próximas, sempre descritas como homens. “Na infância. Na pré-adolescência. Adultas. Idosas. NO PARTO. Na rua, na igreja, em casa”, iniciou o texto. “Pelo pai, pelo padrasto, pelo avô, pelo tio”, descreveu. “Nem todo homem, mas sempre um homem”, finalizou.

O comentário de Mendonça, que depois foi apagado após causar revolta e gerar uma série de respostas, dentro e fora do Instagram, faz paralelo com o original, mas com uma série de colocações de cunho sexista. “No cruzamento da preferencial. Com placa de pare. Na mudança de pista. No sinal vermelho. Na pista molhada. Loiras. Morenas”, escreveu. “Por não saber fazer baliza. Por invadir a pista ao lado, por andar na contramão. Nem toda mulher, mas sempre uma mulher”, terminou o texto.

A publicação foi largamente compartilhada e muito criticada, principalmente, no Twitter. “O meu desejo (que eu posso publicar sem ser presa) é que ele seja expulso da faculdade e nunca consiga exercer qualquer profissão relacionada a medicina. Que veja bem, o cara comentou isso sobre o caso do anestesista (sendo estudante de medicina!)”, escreveu uma internauta.

A maioria dos comentários questionava se a postura de Mendonça era compatível com a profissão de médico e apontavam para o machismo da sátira. “Até quando a violência feminina será vista como uma piada? Quantas mais de nós terão que morrer para serem ouvidas no Brasil? O machismo mata, violenta e satiriza a dor das mulheres”, escreveu o perfil oficial da União Nacional dos Estudantes.

O estudante chegou a se defender de um dos comentários que repudiavam sua publicação: “Fiz um texto satírico justamente pra expor, além de ridículo. é bem transfóbico. Não existem pessoas com pênis que não são homens? E não existe estupro por parte de mulheres cis? Texto ridículo por texto ridículo, eu prefiro o meu”. Na sequência, ele usou o próprio Instagram para se posicionar sobre a repercussão do caso e caracterizou a publicação de Tracy como uma “generalização ridícula”.

“Sempre um homem? Óbvio que meu texto é ridículo, essa era a intenção desde o começo, visto que meu texto é satírico e com o único fim de expor a generalização ridícula que foi feita no texto original”, afirmou uma das publicações. “Mulheres também estupram, mulheres também cometem importunação sexual. Assim como homens também cometem infração de trânsito”, argumentou.

O estudante e Tracy Figg foram procurados pela Jovem Pan para comentar o caso, mas não se posicionaram até a publicação deste texto. Ao G1, o estudante reiterou seu “repúdio ao caso de estupro que foi noticiado” e afirmou que apenas. Confira abaixo a publicação original, reações da web e o posicionamento dele na íntegra.

“Primeiramente, quero deixar explícito o meu repúdio ao caso de estupro que foi noticiado. Aquilo não é um ser humano, muito menos um médico. Diante do acontecido, um perfil do Instagram publicou uma imagem que continha um poema que lamentava a situação, mas que logo tomou outro rumo. Até que, enfim, o texto finalizou com “nem todo homem, mas sempre um homem”. Ora, os estupros não são sempre cometidos por homens, ainda que o sejam na maioria das vezes. A palavra “sempre” exclui exceções, e este certamente não é o caso. Diante da conclusão estapafúrdia do poema original, que imputa somente ao homem o crime de estupro, fiz um poema satírico e tão ridículo quanto a conclusão do primeiro. Nele, fiz uma sátira me referindo a infrações de trânsito e ironizei como se só as mulheres cometessem, o que é claramente não é verdade. Em nenhum momento no meu texto ironizo o estupro ocorrido, não fiz piada com estupro e muito menos fiz piada com violência. Foi apenas um texto satírico, inocente e intencionalmente absurdo a fim de expor a ideia ridícula insinuada através da frase “sempre um homem” no texto original, o que é uma conclusão ilógica, sem cabimento. Em nenhum momento comparei o crime de estupro a infrações de trânsito, isso sequer faz sentido. É óbvio que há homens que cometem infração de trânsito, assim como há, também, mulheres que estupram. E é isso que o meu texto satírico quis expor: o ridículo da conclusão do texto original”.

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